sábado, 21 de março de 2015

Levantamento aponta que 60% dos fundos para reconstrução do nordeste do Japão permanecem intocados


Dentro de alguns dias, o terremoto e tsunami que devastaram áreas costeiras do nordeste do Japão no dia 11 de março de 2011 vão completar quatro anos. Até março de 2014, o governo japonês já havia destinado um total de cerca de 39 bilhões de dólares em fundos para a reconstrução de áreas atingidas pelo desastre. Os fundos eram destinados a projetos de construção de moradias públicas para os desabrigados e a transferência de áreas residenciais para locais mais elevados. Contudo, segundo levantamento feito pelo Conselho de Auditoria do Japão, cerca de 60% do dinheiro não foi gasto. O conselho diz que atrasos nos projetos de reconstrução são parcialmente responsáveis, e agora os auditores exortam os ministérios e agências competentes a oferecer apoio imediato para as áreas atingidas.

No Comentário de hoje, conversamos com o economista sênior Yutaka Okada, do Instituto de Pesquisas Mizuho, que vai nos explicar porque grande parte do dinheiro destinado a projetos de recuperação não foi utilizada.

“O principal motivo foi que, a princípio, o orçamento para os esforços de reconstrução eram grandes demais. Projetos de obras públicas envolvem planejamento, aquisição de terreno e muitos outros processos de coordenação. No entanto, os governos locais das áreas afetadas não dispunham de pessoal suficiente para realizar o trabalho. Mesmo projetos de construção de residências para sobreviventes enfrentam todos os tidos de dificuldades nos processos de coordenação. Isto porque, desde antes do desastre, as áreas afetadas dispunham de poucos terrenos planos, e muitos proprietários morreram na tragédia. Os planos iniciais do governo eram pouco realistas. Acreditando que deveria ajudar rapidamente a reconstruir as vidas dos sobreviventes, o governo se concentrou demais em garantir fundos e realizar os projetos com pressa.

O plano do governo também deu muita prioridade ao planejamento urbano, com base na ideia de que isso levaria à reconstrução da vida dos sobreviventes. Isso pode ser sentido em especial em regiões com economia fraca, porque elas não podiam esperar pelos investimentos do setor privado. Ainda agora, cerca de 90 mil pessoas vivem em casas temporárias. O governo poderia ter destinado mais fundos para reconstruir as vidas dos sobreviventes primeiro, incluindo encorajá-los a se mudar temporariamente para outro lugar. Pesquisas recentes mostram que apenas uma pequena parcela da população que se mudou para fora de suas cidades por causa do desastre quer voltar agora.

Se nada for feito, a população das áreas atingidas vai diminuir drasticamente. A construção de diques, estradas e casas é certamente muito importante. Mas acredito que deveriam primeiro destinar fundos para projetos que visem revitalizar a indústria local e criar empregos, para que as pessoas possam voltar para as suas cidades.

Enquanto isso, em áreas onde esta solução não é possível, é preciso usar o dinheiro para permitir aos residentes se mudar para outros lugares, assumindo que essas cidades não podem ser facilmente restauradas.

Acredito que esta é a oportunidade ideal para que o governo e todo o Japão reconsiderem o que pode ser feito para reconstruir as vidas dos sobreviventes, ao invés de se apressar para encontrar meios de gastar fundos intocados.”

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