domingo, 19 de julho de 2015

Dica indispensável para ter bom relacionamento com seu chefe japonês


Existe uma diversidade de pessoas em nosso meio de convívio, algumas calmas, outras explosivas, algumas piadistas, outras sérias, principalmente entre os brasileiros. No entanto, isso tem pouco que ver ao lidar com os líderes japoneses, principalmente quando se trata de ambientes escolares e profissionais. Portanto, pessoas alegres podem não se sair muito bem com seu ânimo todo diante de um chefe aparentemente rabugento.
O que está em jogo na verdade não é a personalidade de uma ou outra pessoa, mas a compreensão de um único fator cultural: o respeito às hierarquias. Certamente todos os dekasseguis conhecem alguém que já brigou com um chefe japonês, seja com um do alto escalão ou um subchefe. Alguns desses desentendimentos poderiam ter sido evitados se essa questão fosse bem compreendida.

Hierarquia é coisa séria
É necessário saber que respeitar as hierarquias no Japão é um sinal de educação e bom senso. Não importa se o buchoo (diretor), kachoo (gerente) ou kakarichoo (supervisor) é altivo e gosta de pisar nos funcionários. Ele é autoridade. Ponto final. Não sou eu quem diz isso, mas os próprios japoneses. Você pode até achar injusto e dizer que ele não passa de um cara chato, arrogante etc., mas ele vai continuar sendo autoridade e vai continuar pisando em todos nós até que saibamos lidar com isso sabiamente.
Estudos sociológicos do Japão apontam que essa característica tão forte de hierarquia é herança da era feudal, que gerou ascensões e quedas de autoridades, guerras civis, e muitas mudanças internas, que afetaram principalmente na formação social. Em última análise, esse movimento dentro da história nipônica passou a moldar a sociedade para essa mentalidade verticalizada, estendendo-se até os dias de hoje.
Basicamente, não podemos pensar como brasileiros. Devemos pensar como japoneses e lidar como japoneses. Afinal, estamos no país deles, no sistema social deles. Caso contrário, criaremos um mal-estar muito grande no ambiente e também para a imagem do brasileiro como um todo.
Uma experiência escolar
Quando eu estudava no Chuugakkou (equivalente ao ensino fundamental no Brasil), todos nós, alunos, tínhamos o dever de dar bom dia aos professores, em qualquer momento, seja em sala ou quando estivéssemos passando pelos corredores da escola. Em classe, quando ele entrava antes de iniciar a aula, o líder de classe se levantava e mandava a sala toda ficar de pé para que todos cumprimentassem o professor formalmente, abaixando em 45 graus e dizendo: “ohayougozaimasu!” (Bom dia!). Além disso, quando fôssemos entrar na sala dos professores, era necessário dizer: “shitsureishimasu” (com licença), em respeito a todas as autoridades (professores) presentes.

Aprendendo a lidar
Entenda que o buchoo e outras autoridades não têm nada contra nós pessoalmente (na maioria das vezes). Geralmente só estão expressando a sua autoridade baseada na premissa cultural de que eles são os chefes, e nós, os subordinados. E para que não haja uma úlcera em nosso estômago, basta pensarmos como japonês e agir como tal: “Hai! Wakarimashita!” (Sim! Entendido!) ou “Sumimasen! Gomennasai!” (Desculpe-me!).
Certamente eles não querem nossas justificativas, mas querem que reconheçamos que estamos abaixo de sua autoridade, estejamos com a razão ou não. Às vezes podemos até pensar que é um tanto pueril da parte deles, mas é assim que funciona, é assim que a história os conduziu. Não quero dizer que eles sempre estão certos e coisa e tal, mas que sempre temos de ter em mente que estamos diante de um conflito cultural e não pessoal.
Essa compreensão talvez possa ser mais evidente nas famílias de descendentes de japoneses, como no meu caso. Quando meu pai dava bronca em mim e em meus irmãos (quando pequenos, claro), ele nunca aceitava que respondêssemos suas perguntas, uma vez que eram perguntas retóricas. Mas era o jeito de ele afirmar que estávamos diante de sua autoridade paterna. Certamente ele herdou esse hábito de meu avô, que herdou do bisavô, que herdou do pai do avô samurai…
A nossa compreensão cultural ocidental gera um grande atrito à compreensão cultural oriental, e é aqui que devemos ponderar seriamente: que a nossa razão e formas de pensar nem sempre são corretas e funcionais para lidar com os chefes japoneses.

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