sexta-feira, 29 de maio de 2015

Gueixas e “Joshi Kosei”: dois extremos do lucrativo mercado da exploração de mulheres no Japão


Dedicadas às artes e à preservação da cultura japonesa, as gueixas atravessaram os séculos sem, praticamente, sofrer qualquer influência ocidental. Consideradas verdadeiros ícones culturais do Japão, elas são responsáveis por preservar as artes e as tradições de seu país. Especializam-se em danças, canto, música e poesia, com finalidades que vão desde entreter os clientes até acompanhá-los em eventos sociais.

Muitas vezes confundidas com prostitutas, as gueixas modernas garantem que essa prática, se existiu algum dia, ficou no passado. Preparadas desde tenra idade pelas gueixas mais experientes, normalmente donas das “ochayas” (casas de chá), as “maiko”, espécie de estagiárias, recebem aulas de postura, comportamento, maquiagem e outras disciplinas que fazem parte do dia-a-dia das mulheres que vivem dessa atividade.

Conhecido pelo seu hermetismo, o mundo das gueixas começa a dar sinais de abertura, recebendo clientes estrangeiros sem acompanhantes japoneses e permitindo que suas “maiko” falem em inglês com esses clientes.

As “ochayas” cobram, em média, U$ 250,00 pela cerimônia do chá, servida para até 6 clientes com a presença de uma maiko, pelo período de uma hora. Porém, as maiko não recebem qualquer valor até que se complete a carência, normalmente entre 3 e 5 anos, estipulada para que as matronas recuperem o investimento feito em quimonos, maquiagem e outros acessórios.

Assim, as donas de “ochayas” funcionam como agentes das futuras gueixas, perpetuando um mercado lucrativo de exploração da companhia feminina.

Em paralelo à formalidade e tradição das gueixas, estão as “Joshi Kosei” (meninas do ensino médio) que representam uma marca de grande valor no Japão. Na década de 1990, as meninas em idade escolar começaram a vender seus uniformes usados a clientes que tinham fetiches por eles.

A partir daí, garotas com idades entre 16 e 18 anos começaram a praticar o “enjo kosai”, uma espécie de namoro por compensação com homens de meia-idade. O Joshi Kosei business, ou simplesmente, JK business como é conhecido o negócio de exploração desse fetiche, atua em diversas frentes, de diversas formas.

Hifumi Okunuki, professora na Sagami´s Women University e pesquisadora na área de casos legais envolvendo a exploração sexual de mulheres no Japão, faz revelações importantes sobre o assunto.

Segundo ela, o relatório anual do Departamento de Direitos Humanos dos EUA, citou no ano passado a prática do JK o-sanpo como um exemplo de tráfico sexual. JK o-sanpo é o nome que se dá ao passeio que um homem mais velho faz com uma garota do ensino médio, levando-a para uma sala privada de karaoke, que são muito comuns no país.

Manobras para burlar a lei

Este mês, foi descoberta uma nova maneira de exploração deste negócio: meninas do ensino médio, (entre 16 e 17 anos), contratadas por um estabelecimento em Tóquio, recebiam dinheiro para confeccionar origamis para clientes, todos do sexo masculino.

Enquanto elaboravam as dobraduras no papel, as meninas se posicionavam estrategicamente sentadas com as pernas abertas e sem calcinha por baixo das saias do uniforme colegial. A sessão de 40 minutos com essas meninas, custava, em média, 5.000 ienes. Apesar de protegidas por uma vidraça, os clientes poderiam tocar as pernas das meninas, caso houvesse um acréscimo no valor.

No dia 12 de maio, a divisão Juvenil do Departamento de Polícia Metropolitana, prendeu três suspeitos de envolvimento nesse caso, incluindo Takamitsu Fujii, o gerente do local onde as meninas trabalhavam, no distrito de Higashi-Ikebukuro. Os 3 suspeitos não negaram o envolvimento e o gerente ainda declarou que “achava não estar incorrendo em prática ilegal porque as meninas desenvolviam um legítimo trabalho manual”.

Hifumi esclarece que a Lei de Normas Trabalhistas no Japão não permite empregar pessoas menores de 18 anos em lugares que podem ser nocivos à sua saúde física ou mental. Já a Lei do Bem Estar da Criança, que considera “criança” qualquer menor de 18 anos, proíbe que elas sejam empregadas para exercer o trabalho de “acompanhante ou qualquer atividade para entreter clientes”. Apesar disso, proliferam manobras para driblar a lei e enquadrar essas atividades como legítimas.

“O sucesso do JK business, porém, está atrelado à forma como a sociedade japonesa trata a mulher jovem”, declara Hifumi. “Que conselhos podemos dar a essas jovens? Devemos dizer a elas que os adultos estão explorando a sua juventude? Devemos incentivá-las a fazer algum dinheiro com isso e alertá-las para evitar homens perigosos? Devemos ir mais longe e dizer-lhes que, os mesmos homens que adoram a sua juventude agora, vão descartá-las quando a juventude desaparecer? Eu não sei o que dizer a elas. Tudo que eu sei é que eu desprezo esta sociedade que faz com que as mulheres sofram tanto. É hora de uma mudança”, desabafa a pesquisadora.
 

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