A Agência de Inteligência Sul-Coreana informou, nesta quarta-feira, que a Coreia do Norte executou seu ministro da Defesa por traição, com uma arma antiaérea de alto calibre, diante de uma multidão de pessoas. Segundo a Agência, Hyon Yong Chol foi acusado de insubordinação e de “cochilar” durante reuniões militares formais.
Se a informação estiver correta, esta será a mais recente indicação de instabilidade do governo Pyongyang e mais uma demonstração de crueldade de Kim Jong-Un ao lidar até mesmo com os oficiais do mais alto escalão, quando suspeitos de deslealdade, a exemplo da execução de seu próprio tio e ex-mentor político, Jang Song Thaek em 2013.
Isso também aponta para possíveis disputas de poder dentro da cúpula do governo, juntamente com a decisão de Kim em cancelar uma agenda de visitas programadas para Moscou, na última semana, a fim de lidar com “problemas internos”, conforme relatado pelo Kremlin.
No mês passado, a NIS (Agência Nacional de Inteligência do Sul) informou que, até agora neste ano, Kim havia ordenado a execução de 15 altos funcionários, incluindo dois vice-ministros, apenas por questionarem sua autoridade.
Na quarta-feira, em uma entrevista para a Comissão Parlamentar, Han Ki-Beom, o vice-diretor da NIS, afirmou que centenas de pessoas testemunharam a execução de Hyon, que se acredita ter sido realizada com uma arma antiaérea, por volta do dia 30 de abril, em uma academia militar no norte de Pyongyang.
Tal método de execução tem sido citado em vários relatórios não-confirmados, como sendo reservado para altos funcionários, a quem o governo pretende usar como exemplo.
No mês passado, o Comité estabelecido nos Estados Unidos para os Direitos Humanos na Coreia, liberou imagem de satélite, datada de outubro, de um campo de tiro na mesma academia militar, com armas antiaéreas alinhadas para o que parecia ser a preparação de execuções.
”A política interna norte-coreana é muito volátil atualmente”, disse Michael Madden, especialista em liderança norte-coreana e colaborador do 38 North think tank.
“Internamente, não parece haver qualquer respeito por Kim Jong Un dentro dos níveis fundamentais e médio do governo norte-coreano”, acrescentou.
“Não há perigo claro ou presente para a liderança ou a estabilidade de Kim Jong Un na Coreia do Norte, mas se isto continuar a acontecer no próximo ano, então teremos que considerar seriamente um plano de contingência para a Península da Coreia”.
Os detalhes da entrevista da NIS foram transmitidos aos repórteres locais por um político do Partido Saenuri, que participou da Comissão Parlamentar.
A NIS disse ao Comitê que o ministro da defesa tinha sido preso por expressar insatisfação com a liderança de Kim, repetidamente ignorar suas ordens e “cochilar” durante uma reunião que Kim presidiu.
A agência disse também que houve relatórios da inteligência não confirmados onde se apontava que ele havia cometido um ato de traição não especificado.
Hyon, que foi nomeado para o cargo de Ministro das Forças Armadas Populares menos de um ano atrás, foi visto pela última vez assistindo apresentações musicais públicas em 27 e 28 de abril últimos.
Na Coreia do Norte, o ministro da Defesa é o principal responsável pela logística e intercâmbios internacionais. A elaboração de políticas fica a cargo da poderosa Comissão de Defesa Nacional e do partido Comissão Militar Central.
Yang Moo-jin, professor na Universidade de Estudos Norte-Coreanos, em Seul, disse que a execução de Hyon foi um choque.
“Hyon era conhecido como um dos três oficiais militares mais próximos de Kim Jong Un,” disse Yang.
Hyon visitou a Rússia, em abril, onde falou em uma conferência de segurança em Moscou. A visita foi uma preparação para a viagem de Kim a Moscou, onde estava programada a sua participação no desfile de 09 de maio, marcando o 70º aniversário da vitória russa sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.
O professor Yang especula que o ministro Hyon pode ter fracassado em sua missão, já que há relatos de que ele tinha sido encarregado de intermediar um acordo para receber armas em troca da presença de Kim no evento de Moscou.
Kim cancelou sua participação apenas alguns dias antes do desfile, citando “problemas internos” da Coreia do Norte.
“Um líder inexperiente como Kim muitas vezes pode exibir uma tendência para movimentos manifestamente dramáticos e ousados… e para mim a situação parece bastante preocupante “, disse Yang.
“Isto também sugere que Kim está politicamente frustrado”, acrescentou.
Desde que assumiu o poder na Coreia do Norte, após a morte de seu pai, Kim Jong Il, em dezembro de 2011, Kim Jong Un tem trocado repetidas vezes seus oficiais militares.
Sua mais extravagante punição até agora foi a de seu tio, o poderoso Jang Song Thaek, que Kim condenou à morte como “escória fracionista”.
Jang desempenhou um papel fundamental para solidificar a liderança do inexperiente Kim, depois que ele assumiu o poder.
Mas analistas dizem que o crescente poder político de Jang e sua intervenção no lucrativo comércio de carvão, teria despertado o ressentimento do seu jovem sobrinho.