A Universidade de São Paulo – USP vai contar, a partir de setembro, com um novo modelo de policiamento dentro do Campus. Atuando em parceria com a Secretaria de Segurança Pública, o patrulhamento da cidade universitária será realizado por uma patrulha comunitária, inspirada em modelo japonês.
O secretário de segurança pública, Alexandre de Moraes, diz que o modelo de polícia comunitária do Japão, conhecido como Koban, já foi implantado de forma gradual no estado, no final da década de 1990. O modelo deve ser estendido a outras duas universidades – Unesp e Unicamp.
“A companhia já está em fase de treinamento e terá entre 80 e 120 homens que vão ficar responsáveis pela área total do campus, equivalente a 470 campos de futebol”, afirmou Moraes ao jornal Folha. Hoje, 22 policiais militares circulam pelo campus até as 23 horas e há somente 59 câmeras para monitoramento.
No modelo Koban, além do aumento do efetivo, a ação dos policiais será concentrada na prevenção e não apenas no atendimento das chamadas de ocorrências. Os agentes ficarão mais próximos da comunidade de alunos, atuando em diferentes horários, conhecendo melhor a rotina e as necessidades da população.
Desde o início deste ano, a Secretaria de Segurança e a USP vêm desenvolvendo tratativas para solucionar o problema de violência no campus. A USP, inclusive, montou um grupo de trabalho coordenado por José Gregori, que foi ministro do governo FHC e presidente da Comissão de Direitos Humanos da USP.
A necessidade mencionada pelo coordenador dos trabalhos ficou ainda mais evidente depois do último caso de violência registrado no campus. No dia 15 de junho, uma estudante de economia da USP, de 17 anos, foi estuprada nos arredores da praça do relógio, próximo à reitoria. Ela teria sido abordada quando se dirigia ao refeitório do campus, no início da noite. O suspeito, armado com uma faca, é um jovem que, a princípio, não seria aluno da USP.
O fato do criminoso suspeito não possuir ligação com a universidade, reforça os argumentos de que a USP não é mais uma Universidade isolada e foi, literalmente, invadida pela cidade. “Levou-se em conta que o campus, em alguns trechos, é um pedaço da cidade de São Paulo. A USP não é mais o lugar isolado que foi no passado. Tem características de um pedaço da cidade”, afirmou Gregori.O debate sobre policiamento dentro das universidades é antigo e delicado. Existe uma resistência das entidades estudantis à presença ostensiva das policias no campus, justificada pelos fatos ocorridos na história recente das atuações policiais em universidades. Um dos motivos dessa resistência, de acordo com as agremiações, é que a polícia pode reprimir atividades de cunho político e social com o pretexto de oferecer segurança à população.
Os funcionários e alunos do campus, ao contrário das agremiações estudantis que insistem em ver a medida sob a ótica político-social, reclamam da escuridão em alguns pontos e da falta de segurança que gera registros frequentes de furto, roubo e violência sexual.
As agremiações estudantis também não sugeriram qualquer modelo que pudesse ser contraposto ao que será implantado pela secretaria e pela USP, como forma de se resolver a violência crescente nas dependências das universidades.
Por estas razões, Gregori acredita que já exista um entendimento entre a classe estudantil de que o policiamento no campus é necessário e inadiável. Ele admite, porém, que a proposta ainda precisa ser apresentada aos funcionários e aos alunos da instituição.
O governo paulista, porém, segue com as providências necessárias à implementação do projeto e já fez um estudo para mapear o melhor local para instalar a base fixa da Polícia Militar dentro do campus. Os policiais deverão utilizar no uniforme uma braçadeira diferente da usual, para sinalizar que fazem parte da polícia comunitária do campus.